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Mostrando postagens de 2012

Fim e Começo (Wisława Szymborska)

Depois de cada guerra alguém tem que fazer a faxina. Colocar uma certa ordem que afinal não se faz sozinha. Alguém tem que jogar o entulho para o lado da estrada para que possam passar os carros carregando os corpos. Alguém tem que se atolar no lodo e nas cinzas em molas de sofás em cacos de vidro e em trapos ensanguentados. Alguém tem que arrastar a viga para apoiar a parede, pôr a porta nos caixilhos, envidraçar a janela. A cena não rende foto e leva anos. E todas as câmeras já debandaram para outra guerra. As pontes têm que ser refeitas, e também as estações. De tanto arregaçá-las, as mangas ficarão em farrapos. Alguém de vassoura na mão ainda recorda como foi. Alguém escuta meneando a cabeça que se safou. Mas ao seu redor já começam a rondar os que acham tudo muito chato. Às vezes alguém desenterra de sob um arbusto velhos argumentos enferrujados e os arrasta para o lixão. Os que sabiam o que aqui se passou devem dar lugar àqueles que

A Era (Ossip Mandelstam)

A Era (Ossip Mandelstam) Minha era, minha fera, quem ousa, Olhando nos teus olhos, com sangue, Colar a coluna de tuas vértebras? Com cimento de sangue - dois séculos - Que jorra da garganta das coisas? Treme o parasita, espinha langue, Filipenso ao umbral de horas novas. Todo ser enquanto a vida avança Deve suportar esta cadeia Oculta de vértebras. Em torno Jubila uma onda. E a vida como Frágil cartilagem de criança Parte seu ápex: morte da ovelha, A idade da terra em sua infância. Junta as partes nodosas dos dias: Soa a flauta, e o mundo está liberto, Soa a flauta, e a vida se recria. Angústia! A onda do tempo oscila Batida pelo vento do século. E a víbora na relva respira O ouro da idade, áurea medida. Vergônteas de nova primavera! Mas a espinha partiu-se da fera, Bela era lastimável. Era, Ex-pantera flexível, que volve Para trás, riso absurdo, e descobre Dura e dócil, na meada dos rastros, As pegadas de seus próprios passos. 1923 (Tradução de Haro

Garrafa (Waly Salomão)

Vá dizer aos camaradas Que fui para o alto-mar E que minha barca naufraga. Leme partido. Casco arrombado. Sem farol afunda Nas pedras dos arrecifes. Bandeira aos farrapos. Nenhuma estrela-guia Célere desce lá do céu para minha companhia. Destroços: proa, velame, quilha, prancha, rede-de-pescar, arpão, bússola, astrolábio, boia, sonar... Que fui para o alto-mar E que Medina e Meca já não significam mais nada para mim. Entrevado Vista Turva Porto nenhum avisto Nas trevas da cerração. Pelejo entre os vagalhões e as rocas, Não apuro os nós de lonjuras das seguras docas Tampouco os altos e baixos relevos das pedras que roncam ais no quebra-mar do cais Ou dos tapetes de mijo e de restos de peixes E patas de caranguejos e frutas podres Tecidos pelas alpercatas e os pés nus sobre a rampa do Mercado-Modelo. Um marinheiro conserta sua embarcação - corpo de intempestiva casa - Em pleno alto-mar aberto Vá dizer aos meus amigos. SALOMÃO, Waly. Tarifa de

Simply Are (Arto Lindsay)

I do love your lack of all expression Find it not at all distressing Life was tailor made for our refreshment While life is rarely lacking dust Covered with details and fuss You are one of those creatures who simply are Simply beyond why Simple as okay Let me provide whatever bravery's required Whatever necessary fraction But nothing more than it takes to provoke a reaction Daydream your way around the room Through intersections and aggressions You are one of those creatures who simply are Simply beyond why Simple as okay Pay enough attention to be fair No need to get up from your chair Shower me with evidence of pleasant disposition Daydream your way around room Walk night past frowns and gloom You are one of those creatures that simply are