FREVO E FLAMENCO (João Cabral de Melo Neto) Viver não vale dormir, viver é estar acordado, há tempo para dormir quando o grande sono for dado. Viver é estar acordado viver é ver-se vivendo: não é o embalo de sonho, é o despertador do flamenco; O despertar do frevo Com seus metais de doer Que não nos deixa dormir Faz nosso viver mais viver. Viver não é um dedal, muito menos a pomada, viver é em frevo e flamenco que deixa a pele esfolada, uma vida não sei de onde como maré que invadiu foi de fora, foi de dentro aquele invadir de vazio? Não sei se cheia ou secura não sei se era muito ou pouco sei que invadiu por todo o corpo. Seria o fígado, o intestino, seria essa coisa ou aquela? Por que então subiu tão alto e me invadiu a cabeça? Decerto dentro de meu viver alguma coisa escondida rebenta por só rebentar sem ameaçar-me a vida. E o prazer me aprisiona e mal ou bem faz sua rotina, máquinas gastas de muito, mas capazes de disciplina. Não sei: um vazio pleno me toma de a
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Fim e Começo (Wisława Szymborska)
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Depois de cada guerra alguém tem que fazer a faxina. Colocar uma certa ordem que afinal não se faz sozinha. Alguém tem que jogar o entulho para o lado da estrada para que possam passar os carros carregando os corpos. Alguém tem que se atolar no lodo e nas cinzas em molas de sofás em cacos de vidro e em trapos ensanguentados. Alguém tem que arrastar a viga para apoiar a parede, pôr a porta nos caixilhos, envidraçar a janela. A cena não rende foto e leva anos. E todas as câmeras já debandaram para outra guerra. As pontes têm que ser refeitas, e também as estações. De tanto arregaçá-las, as mangas ficarão em farrapos. Alguém de vassoura na mão ainda recorda como foi. Alguém escuta meneando a cabeça que se safou. Mas ao seu redor já começam a rondar os que acham tudo muito chato. Às vezes alguém desenterra de sob um arbusto velhos argumentos enferrujados e os arrasta para o lixão. Os que sabiam o que aqui se passou devem dar lugar àqueles que
A Era (Ossip Mandelstam)
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A Era (Ossip Mandelstam) Minha era, minha fera, quem ousa, Olhando nos teus olhos, com sangue, Colar a coluna de tuas vértebras? Com cimento de sangue - dois séculos - Que jorra da garganta das coisas? Treme o parasita, espinha langue, Filipenso ao umbral de horas novas. Todo ser enquanto a vida avança Deve suportar esta cadeia Oculta de vértebras. Em torno Jubila uma onda. E a vida como Frágil cartilagem de criança Parte seu ápex: morte da ovelha, A idade da terra em sua infância. Junta as partes nodosas dos dias: Soa a flauta, e o mundo está liberto, Soa a flauta, e a vida se recria. Angústia! A onda do tempo oscila Batida pelo vento do século. E a víbora na relva respira O ouro da idade, áurea medida. Vergônteas de nova primavera! Mas a espinha partiu-se da fera, Bela era lastimável. Era, Ex-pantera flexível, que volve Para trás, riso absurdo, e descobre Dura e dócil, na meada dos rastros, As pegadas de seus próprios passos. 1923 (Tradução de Haro
Garrafa (Waly Salomão)
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Vá dizer aos camaradas Que fui para o alto-mar E que minha barca naufraga. Leme partido. Casco arrombado. Sem farol afunda Nas pedras dos arrecifes. Bandeira aos farrapos. Nenhuma estrela-guia Célere desce lá do céu para minha companhia. Destroços: proa, velame, quilha, prancha, rede-de-pescar, arpão, bússola, astrolábio, boia, sonar... Que fui para o alto-mar E que Medina e Meca já não significam mais nada para mim. Entrevado Vista Turva Porto nenhum avisto Nas trevas da cerração. Pelejo entre os vagalhões e as rocas, Não apuro os nós de lonjuras das seguras docas Tampouco os altos e baixos relevos das pedras que roncam ais no quebra-mar do cais Ou dos tapetes de mijo e de restos de peixes E patas de caranguejos e frutas podres Tecidos pelas alpercatas e os pés nus sobre a rampa do Mercado-Modelo. Um marinheiro conserta sua embarcação - corpo de intempestiva casa - Em pleno alto-mar aberto Vá dizer aos meus amigos. SALOMÃO, Waly. Tarifa de
Simply Are (Arto Lindsay)
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I do love your lack of all expression Find it not at all distressing Life was tailor made for our refreshment While life is rarely lacking dust Covered with details and fuss You are one of those creatures who simply are Simply beyond why Simple as okay Let me provide whatever bravery's required Whatever necessary fraction But nothing more than it takes to provoke a reaction Daydream your way around the room Through intersections and aggressions You are one of those creatures who simply are Simply beyond why Simple as okay Pay enough attention to be fair No need to get up from your chair Shower me with evidence of pleasant disposition Daydream your way around room Walk night past frowns and gloom You are one of those creatures that simply are
Estrangeiro em Mim (Badi Assad)
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Se fecho os olhos ainda me sinto como antes Antes quando o olhar era profundo Nossa fala não como gomo de fruta cítrica Antes quando os olhos eram apenas arcos Mas tempo passa e a gente muda E onde havia mar hoje nem aquário E ternos abraços em vestidos Nem no armário Você, você, você Estrangeiro em mim Se fecho os olhos ainda me sinto como antes Antes quando o olhar era profundo Nossa fala não como gomo de fruta cítrica Antes quando os olhos eram apenas arcos Mas tempo passa e a gente muda E onde havia mar hoje nem naufrágio E ternos abraços em vestidos Nem no armário E tão triste sentir o seu verso esdrúxulo, não mais idílico Laços evitando em serem nós E o meu ventre que aprendeu a ser ventríloquo E tão triste sentir sua língua revelando outras linguagens O seu peso não afastando os meus pesares Tatos não mais como tatuagem Mas tempo passa e a gente se cansa De ser lança na lua cheia de dragão E o nosso sol se expõe na solidão Você, você, você Estrangeiro em mim
Pat Martino's Footprints (Fragments by Gary Giddins)
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“First off, the music on this record, an extraordinary testimony to communication, was conceived by Pat Martino as a personal tribute to, a ‘visit’ with, the memory of Wes Montgomery. I suppose that anybody hip enough to even think of buying this record knows all about Wes and there is, therefore, no reason even to note that he was the most dynamic figure on jazz guitar since Charlie Christian”. “Despite a twenty years disparity in age, the two guitarists [Wes Montgomery and Pat Martino] had developed a strong musical bond in the same town they used to play. Work. Jam, learn, teach, experiment, dig each other.” “Influence is a problem all artists have to contend with a various degrees. In trying to create your own art, you become self-conscious about you’ve picked up from your predecessors. Sometimes you become paranoia fencing off what you think is influence or, worse, imitation, in order to create something that is new, original, yours. I know a writer whose admiration for Faulkner i