Habitar o Flamenco - João Cabral de Melo Neto
Como se habita uma cidade
Se pode habitar o flamenco;
como sua cidade, seus nativos,
Seus bairros, sua moral, seu tempo.
Sua linguagem: um falar com coisas
E jamais do oito mas do oitenta;
Seus nativos: toda uma gente
Que existe espigada e morena;
Seus bairros: todos os sotaques
Em que divide seus acentos;
Sua moral: a vida que se abre
E se esgota num instante intenso;
Seu tempo: borracha que estica
Em segundos de passar lento,
Lendo de sesta, sesta insone
Em que se está aceso e extremo.
Se pode habitar o flamenco;
como sua cidade, seus nativos,
Seus bairros, sua moral, seu tempo.
Sua linguagem: um falar com coisas
E jamais do oito mas do oitenta;
Seus nativos: toda uma gente
Que existe espigada e morena;
Seus bairros: todos os sotaques
Em que divide seus acentos;
Sua moral: a vida que se abre
E se esgota num instante intenso;
Seu tempo: borracha que estica
Em segundos de passar lento,
Lendo de sesta, sesta insone
Em que se está aceso e extremo.